A Fonte da Compaixão

Todas as almas nobres têm como ponto comum a compaixão.

Friedrich Schiller

Um dos insights sobre a vida que o Dalai Lama costuma sempre repetir é o fato de que nenhum de nós deseja sofrer; todos os seres querem apenas ser felizes.

Mesmo nos casos em que exista uma “busca consciente” pelo sofrimento, a intenção implícita é sempre se tornar “resistente” a ele, para então alcançar a felicidade.

Ser feliz também está presente em todas as situações em que realizamos algo com a intenção de tentar evitar o sofrimento, mas que acabam por nos levar a ele.

Por outro lado, a partir do momento que compreendemos esse insight – o fato de que absolutamente tudo o que fazemos tem, por objetivo último, evitar o sofrimento e buscar a felicidade – nos tornamos capazes de começar a ver as coisas e a nós mesmos de outro modo.

Passamos a compreender que o sofrimento é algo universal, que faz parte de nossas vidas em diferentes momentos, gostemos disso ou não.

Da mesma forma, começamos a buscar uma maneira de enfrentá-lo que reconheça não só sua universalidade, mas também a universalidade da busca da felicidade. Uma maneira que nos conecte aos outros, em nossa humanidade comum

Esse novo modo de ver, baseado na compreensão das nossas motivações mais profundas, tem sido um dos caminhos mais poderosos para levar as pessoas a desenvolverem a compaixão.

Apenas através das “lentes” da compaixão podemos apreender do modo mais amplo possível as intenções universais e profundas por trás de determinados comportamentos e ações que nos fazem sofrer. 

E, a partir dessa compreensão transformadora, conseguimos aceitá-los e superá-los, em lugar de simplesmente recriminar e culpar a nós ou aos outros, numa atitude que, deixa de alimentar sofrimento.

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Compaixão: O Que É, O Que Não É e Porque é Importante

O Que a Compaixão É

Disciplina é liberdade;
Compaixão é fortaleza;
Ter bondade é ter coragem.

Renato Russo

A origem da palavra compaixão remete a outras duas palavras: com – que significa “junto” – e pati – que significa “sofrer”. Com base nisso, as definições comuns de compaixão incluem normalmente dois componentes.

O primeiro diz respeito à sensibilidade ao sofrimento. Ou seja, a capacidade de percebê-lo e experimentar uma reação emocional quando estamos expostos a ele, seja o nosso sofrimento, seja o dos outros. Só existe compaixão quando há uma conexão emocional entre quem sofre e quem ajuda.

O segundo componente da compaixão é a motivação a ajudar. Não nos limitamos a observar o sofrimento, mas realizamos um impulso no sentido de fazer algo a respeito.

Isso significa que ser compassivo, ao contrário de ser passivo, implica encarar os problemas e as situações difíceis em vez de se desviar delas ou fingir sua inexistência. Mas enfrentá-los com sensibilidade, compreendendo as causas do sofrimento.

Desse modo, a ação compassiva, que vai na direção atuar sobre o problema, não é motivada pelo desejo de destruição, culpa ou punição daquele que sofre. 

Sua energia vem do desejo de compreender – isto é, de apreender de modo não superficial, a partir das causas reais – para, de alguma forma, conseguir melhorar a situação. E, caso não consiga melhorar, agir de modo a não piorar as coisas.

A partir de seus dois componentes, a compaixão é capaz de nos conferir os “meios hábeis” para lidar com o sofrimento.

Em outras palavras, permite que sejamos capazes de saber o que precisa ser feito e efetivamente fazer o melhor para lidar com uma dada situação de dor. Nem que isso seja apenas ou olhar compassivo ou estar junto à pessoa no momento que ela sofre.

Compaixão, portanto, não é escolher um caminho mais “suave”. Significa estar disposto a entrar em desconforto para fazer um trabalho que realmente ajude a si ou o outro. É reconhecer a existência de perguntas difíceis e não recorrer a respostas fáceis. É reconhecer o sofrimento, mas também que esse sofrimento sempre possui saídas possíveis.

Por isso que a compaixão envolve, necessariamente, força e coragem. Qualquer coisa diferente disso não é compaixão.

O Que a Compaixão Não É

A verdadeira compaixão não consiste em sofrer pelo outro. Se ajudamos uma pessoa que sofre e nos deixamos invadir por seu sofrimento, é que somos ineficazes e estamos tão somente reforçando nosso ego.

Dalai Lama

Se a compaixão fosse constituída apenas pela sensibilização ao sofrimento, recairia facilmente em conformismo e depressão, pois existiria apenas a conexão emocional sem a motivação que inspira a ajudar para tentar mudar a situação.

Facilmente nos tornaríamos meros observadores, ou então, em função da conexão emocional, afundaríamos em negatividade, pelo fato de não nos colocarmos ao encontro de uma solução, simplesmente remoendo as dificuldades.

Por outro lado, se a compaixão incluísse somente seu segundo elemento, ou seja, apenas a motivação bondosa de ajudar, poderia se tornar mero voluntarismo, realizado por pessoas “legais” e “doces”, claramente bem intencionadas, mas ingênuas. Pessoas que veem o mundo de forma excessivamente “cor de rosa”.

Isso ocorre porque a falta de sensibilização com o sofrimento limita sua compreensão e a capacidade de apreender suas causas. Consequentemente, as motivações atingem apenas uma percepção superficial que subestima as dificuldades e restringe a capacidade de superá-las.

Desse modo, ainda que a motivação em ajudar seja indispensável para que a compaixão possa existir, esse componente diz respeito a uma condição necessária, mas não suficiente para que haja compaixão.

Outra visão equivocada e muito comum em relação à compaixão é entende-la como sinônimo de pena.

Sob essa perspectiva, sentir compaixão seria o mesmo que observar o sofrimento das outras pessoas a partir de uma “posição de superioridade”, como se o outro que sofre fosse intrinsecamente incapaz de lidar com suas dificuldades.

Nesse sentido, pena não pode ser o mesmo que compaixão porque na segunda há um sentimento de “humanidade compartilhada”. Colocamo-nos como alguém semelhante ao outro, que pode se sensibilizar com suas dores.

Por isso, não se trata de subestimar ou de deixar de reconhecer a força e a resiliência inatas a qualquer ser humano frente aos seus problemas.

A incapacidade de lidar com eles ou de superá-los não é vista como algo da natureza de uma determinada pessoa, e sim como uma dificuldade apenas circunstancial. Com o apoio, a motivação e os meios hábeis próprios, qualquer pessoa é capaz de se fortalecer frente aos problemas.

Por Que a Compaixão é Importante?

Se a sua compaixão não inclui a si mesmo, ela é incompleta.

Buda

Como visto anteriormente, a compaixão não se trata de pena ou de uma postura sentimentalista e passiva. Não se trata de ser uma pessoa “doce” e “legal” o tempo todo, tampouco de fugir ou fingir que os problemas não existem.

É encará-los com a capacidade de compreendê-los de forma ampla e profunda, para então agir sobre eles de forma efetiva.

A importância da compaixão na superação de nossas dificuldades e o modo como opera nesse processo ficam mais fáceis de serem entendidos quando levamos em consideração nossos 3 sistemas de regulação de emoções.

COMPAIXÃO E SISTEMA DE REGULAÇÃO DE EMOÇÕES

Descobri que o mais alto grau de paz interior decorre da prática do amor e da compaixão. Quanto mais nos importamos com a felicidade de nossos semelhantes, maior o nosso próprio bem-estar. Ao cultivarmos um sentimento profundo e carinhoso pelos outros, passamos automaticamente para um estado de serenidade. Esta é a principal fonte da felicidade.

Dalai Lama

Na medida em que somos confrontados com as dores existentes na vida, um dos nossos sistemas de regulação de emoções – o sistema de ameaças e autoproteção – nos faz perceber que a situação é ruim e nos leva a “lutar” ou “fugir”.

Outro desses sistemas – o de impulso-estímulo e busca de recursos – nos faz acreditar que as coisas serão melhores quando obtivermos um determinado desfecho.

Por sua vez, o terceiro desses sistemas – o sistema de segurança, tranquilização e contentamentoreconhece a dor por que estamos passando, aceita que ela faz parte da vida e trabalha para descobrir o que precisa ser feito para encontrar uma solução. Além disso é capaz de suportar a angústia enquanto essa solução não é encontrada.

É nesse ponto que entra a compaixão. Ela nos possibilita ter a força e a coragem para enfrentar os sentimentos e as situações dolorosas em nossas vidas. Permite-nos ir em busca de uma solução, ao mesmo tempo que constrói esse caminho de maneira que nos faça mais gentis e compreensivos conosco e com os outros.

Em outras palavras, quando nosso mindset compassivo – e, portanto, a própria compaixão – entra em ação e se fortalece, conseguimos iniciar um poderoso processo de reconhecimento do sofrimento e de mudança das raízes e das condições que nos levam a ele.

Um processo que não teria como ser atingido com a mesma efetividade caso fosse capitaneado por qualquer outro sistema de regulação e seus respectivos mindsets.

A partir daí, nosso “lado compassivo da mente”, pode começar a atuar no sentido de equilibrar os outros dois sistemas de regulação. A compaixão age no sentido de proporcionar e manter nosso próprio bem-estar e o bem-estar dos outros.

COMPAIXÃO, SOFRIMENTO E FELICIDADE

Nossa tarefa deveria ser nos libertarmos… aumentando o nosso círculo de compaixão para envolver todas as criaturas viventes, toda a natureza e sua beleza.

Albert Einstein

Com base no que vimos, podemos perceber com clareza que a compaixão é um meio incontornável quando se trata de lidarmos com as quatro grandes verdades da vida:

i) a verdade de que o sofrimento existe;

ii) de que esse sofrimento tem causas;

iii) de que a cessação do sofrimento e a felicidade são possíveis;

iv) de que existe um caminho para essa cessação e para a felicidade.

A compaixão – a si e aos outros – é esse caminho.

Se esta é a busca em que você está realmente engajado e se deseja iniciar ou se aprofundar nesse caminho, conheça os cursos que podem ajudar você nessa direção. Você pode acessá-los aqui.

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Texto baseado nos livros:

Building your Self-Confidence using Compassion Focused Therapy, de Mary Welford. Saiba mais aqui.

Managing your Anger using Compassion Focused Therapy, de Russell Kolts. Saiba mais aqui.

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