O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder.

William Shakespeare

Toda vez que alguma coisa nos deixa irritado, quando algo sai diferente do esperado e temos que gerir alguma situação difícil, nossa primeira tendência é tentar modificar imediatamente o que julgamos que está de errado.

O primeiro impulso que tende a nos dominar é utilizar o poder tradicional, baseado na força, no medo ou na capacidade de coerção oriunda de uma posição hierárquica que ocupamos – como pais, professores, chefes, autoridades políticas etc.

Exatamente no momento em que esse impulso surge, é preciso parar e contemplar, para sermos capazes de analisar profundamente o que está nos causando esse impulso de modificação imediata da situação e a origem da própria situação em si.

Em outras palavras, antes de agir é preciso “virar a chave”. É imprescindível sair da postura automática, ligada às formas tradicionais do poder, em direção ao poder verdadeiro, que nos confere a felicidade e a liberdade reais.

Na medida em que exercitamos essa “virada de chave” e passamos a agir orientados sob essa outra perspectiva, começamos a vivenciar a arte de lidar habilmente com o poder.

É sobre isso que falaremos neste artigo. Venha conosco!

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Mandar e Liderar

Não manda bem quem tem a ânsia de mandar.

John Ruskin

É possível exercer o poder e disseminar nossas orientações e opiniões de diversas maneiras. Uma delas é exercê-lo de modo a produzir sofrimento e abusar de nossa autoridade. Isso é o que ocorre, frequentemente, quando o poder se manifesta em sua forma “tradicional”, quando tem por fim, por exemplo, a fama, a riqueza, ou o controle das outras pessoas em benefício próprio. Trata-se do poder de mandar.

Por outro lado, se queremos evitar a disseminação do sofrimento e ajudar as pessoas que estão sob nossa influência, o caminho é exercê-lo a partir das cinco energias que constituem o verdadeiro poder: a confiança, a perseverança, a plena consciência, a concentração e o discernimento (conheça-as em mais detalhes aqui).

Quando procuramos influenciar as outras pessoas com base nessas energias, nós não precisamos mais buscar o controle dos outros, mas são eles próprios que naturalmente começam a buscar nossos conselhos e nossa influência. Trata-se do poder de liderar.

Para que sejamos líderes verdadeiros, três virtudes são indispensáveis: a da interrupção, a do amor e a do discernimento. Esta última é uma espécie de síntese das cinco energias anteriormente mencionadas.

Liderar não é impor, mas despertar nos outros a vontade de fazer.

Marcio Kühne

As Virtudes do Líder

O verdadeiro líder não tem necessidade de liderar – contenta-se em apontar o caminho.

Henry Miller

INTERRUPÇÃO

Esta é a primeira virtude a ser utilizada com habilidade por um líder. Mas o que significa essa virtude? O que, mais exatamente, ela interrompe?

Ela consiste na capacidade de interromper nossos anseios negativos, como a raiva, o medo, a mesquinharia e a ignorância.

Diante dos desafios e das dificuldades do exercício da liderança, estamos permanentemente sujeitos a nossos anseios mentais. É preciso a habilidade de transformá-los gradualmente em motivações, pensamentos e ações benéficas.

Se não tivermos esse tipo de autocontrole sustentado pela virtude da interrupção, causamos aos outros e a nós mesmos um grande sofrimento, na medida em que atuamos sem limites éticos.

São abundantes os exemplos de políticos e outras autoridades que destruíram a vida de muitas pessoas e tiveram a própria vida destruída em função, por exemplo, de escândalos sexuais e de abuso de poder, por não saberem interromper seus anseios negativos.

Esses exemplos mostram claramente de que forma a virtude da interrupção é capaz de nos conferir verdadeiro poder. Ela possibilita respeitar as pessoas e ouvir o que têm a dizer. É uma virtude que nos proporciona leveza, a liberação do nosso corpo e da nossa mente de tudo aquilo que nos torna pesados.

Uma virtude que só obtemos por meio da motivação sincera e por meio da prática dedicada.

AMOR

O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.

Antoine de Saint-Exupéry

Outra virtude que todo verdadeiro líder também possui é o amor. Ao contrário do que normalmente se acredita, o líder deve ter também a capacidade de ser afetuoso, de aceitar e de perdoar as outras pessoas com bondade amorosa e compaixão.

Esse poder é capaz de surgir porque através do amor se formam relações saudáveis, em que a felicidade genuína pode florescer. As pessoas respeitam o líder porque o líder as respeita como pessoas. E não apenas como “subordinados”, “alunos”, “profissionais”, “empregados” etc.

Quem carece de compaixão e amor, sofre e faz sofrer muito. Em sua forma de mandar, não é capaz de perdoar, de aceitar, de ouvir. Em suma, de levar leveza às relações. Sem essas motivações, tendemos a ficar completamente sozinhos, pois elas são a base da felicidade.

DISCERNIMENTO

Um verdadeiro líder também precisa possuir a virtude do discernimento.

Neste ponto, é importante saber diferenciá-lo do conhecimento. Há inúmeros chefes e autoridades com um grande número de cursos, formações, diplomas, prêmios. Que são capazes de fazer longos e articulados discursos e comentários sobre temas científicos, filosóficos, artísticos, políticos. Mas não possuem discernimento.

Isso ocorre porque eles possuem conhecimento, porém não desenvolveram a sabedoria.

A sabedoria (ou o discernimento) só pode surgir quando contemplamos e compreendemos profundamente a realidade, bem como os desafios e sofrimentos potenciais ligados a ela. Por isso, o teste para reconhecer uma pessoa com sabedoria – o verdadeiro líder – é analisar se esta pessoa é capaz de indicar um caminho que afaste do sofrimento, em lugar nos aprofundar nele.

O líder enxerga e permite enxergar uma saída das situações difíceis, nas quais nos sentimos aprisionados e sem nenhuma orientação. Esse é um claro sinal de sabedoria ou discernimento.

Assim, quando temos discernimento, é possível cuidar com muito mais facilidade das dificuldades, das tensões e contradições. Podemos realmente ajudar as pessoas. Quando a sabedoria não se faz presente, por outro lado, apenas andamos em círculos, continuamente assediados por medos e preocupações.

A Verdadeira Autoridade

Nada faz realçar mais a autoridade do que o silêncio, esplendor dos fortes e refúgio dos fracos.

Charles de Gaulle

Quem lidera com as três virtudes – interrupção, amor e discernimento – influencia os demais com a verdadeira autoridade, que é muito diferente da autoridade comum.

A segunda se baseia em cargos e posições. Entretanto, estes obviamente não são capazes de produzir autoridade por si sós; em vários casos, ao contrário, apenas promovem arbitrariedade e autoritarismo.

Porém, quando um cargo ou posição é ocupado por quem pratica adequadamente as cinco energias do poder verdadeiro, essa pessoa irradia contentamento, paz e estabilidade aos outros. Sua autoridade é profunda e verdadeira.

Podemos perceber a autoridade verdadeira quando vemos uma pessoa falar e as outras pararem para ouvir o que esse líder está dizendo. Mas elas param não porque se sentem obrigadas, como ocorre em grande parte das situações, e sim porque suas palavras são revigorantes e sábias.

O líder é quem inspira as pessoas com seu estilo de vida, seu exemplo, sua autenticidade. É quem exerce esta, e somente esta, forma de autoridade. Uma autoridade que surge naturalmente, sem o uso da força para alcançá-la.

A Liderança Implica a Prática Adequada

Liderança é ação, e não posição.

Donald McGannon

Não há como obter verdadeira autoridade e lidar com o verdadeiro poder sem que as cinco energias e das três virtudes pelo verdadeiro líder sejam praticadas com diligência e motivação. A liderança é algo que flui naturalmente, no entanto, nunca é obtida sem dedicação e algum grau de esforço anterior.

Caso não haja a dedicação nesse sentido, o poder que temos em mãos se sustenta em motivações frágeis e em visões estreitas. Assim, acaba por voltar-se contra nós mesmos.

Em outras palavras, não há conexões fortes com as fontes que alimentam a motivação adequada, aquela que nos coloca em direção ao bem-estar de todos, em lugar do desejo pelas coisas impermanentes.

Uma liderança não fundamentada na prática nos coloca sempre sob o risco de sermos seduzidos pelo poder que já possuímos e de usá-lo de forma abusiva. Em contrapartida, o cultivo das energias e das virtudes relacionadas à verdadeira autoridade nos transforma internamente e protege a nós mesmos e as pessoas que amamos da dor e do sofrimento.

O “Poder Tradicional” é sempre Vulnerável

Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente.

Fernando Pessoa

Ao observarmos de uma forma mais profunda o poder em suas formas tradicionais – baseadas na riqueza, na fama, no status social, na força física e militar etc. –, veremos que, por mais forte que seja o domínio que possuem sobre as outras pessoas ou situações, os poderosos estão permanentemente sujeitos ao medo e à dor.

Do mesmo modo, estão permanentemente sujeitos a gerar um grande nível de sofrimento a quem controlam. Ou seja, a vulnerabilidade persiste, apesar de todos os seus privilégios.

Isso ocorre porque toda vez que o poder não se fundamenta na verdadeira autoridade, está sujeito a ser desafiado por aqueles que o consideram ilegítimo. Essa sensação de ilegitimidade aumenta sempre que alguns são excessivamente poderosos, enquanto a maioria não possui poder algum.

Essa tendência ao excesso e à desigualdade é inevitável nas formas tradicionais de poder – como o poder político e econômico – pois elas não são capazes de satisfazer as reais necessidades de quem os detêm. Por mais que o poder seja acumulado, a insegurança persiste e ele nunca parece suficiente.

Consequentemente, quanto mais os benefícios gerados por todos são apropriados por alguns poucos, mais o poder se torna instável e sujeito a questionamentos e insurreições. A aceitação da autoridade se torna cada vez mais aparente, e perdura apenas enquanto o desamparo e a indignação não superam o medo.

A situação do líder e dos liderados, contudo, torna-se diametralmente diferente quando a autoridade se sustenta na sabedoria

Sua liderança e autoridade se consolidam na medida em que, devido às virtudes da interrupção, do amor e do discernimento, tornam-se aptos a amenizar as aflições mentais individuais e coletivas, mantendo a ordem sem coerção e a suportando desafios sem recorrer à violência

Verdadeiros Líderes desejam o Verdadeiro Poder

É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade.

Francis Bacon

Os verdadeiros líderes também buscam o poder. Mas como vimos, trata-se de um poder fundamentado em alicerces muito diferentes dos que sustentam o poder tradicional. São os alicerces da confiança, da perseverança, da plena consciência, da concentração e do discernimento.

Isso não significa, contudo, que esses líderes simplesmente refutem ou ignorem os objetos comumente buscados pelo poder tradicional, como a fama e o dinheiro, por exemplo.  

Ambos não são intrinsecamente nocivos. O problema surge quando o que sustenta nossas buscas são apenas esses próprios objetos. Quando isso acontece, nós realmente nos afastamos do poder verdadeiro e legítimo e aumentamos o grau de sofrimento.

Porém, quando a fama e o dinheiro não são o próprio objeto de desejo em si, mas unicamente meios utilizados para pôr em prática motivações virtuosas de ajudar as pessoas, não causarão dano algum. Podem, ao contrário, ser bastantes úteis se sua busca for, antes de tudo, fundamentada nas cinco energias.

Por isso, o poder verdadeiro, e tudo o que está diretamente ligado a ele, não gera medo, desamparo, raiva ou vulnerabilidade. Seu foco é sempre o benefício de todos, o que permite se retroalimentar continuamente, energizando de forma crescente tudo o que toca.

É um poder ilimitado e, portanto, livre da competição, da rivalidade, da inveja e da disputa.

Ele não envolve a lógica da escassez, do “perde-ganha”. Sob sua influência, ao contrário, vivemos sob a lógica da dádiva, em que todos ganham e se fortalecem: as outras pessoas, nós mesmos, o planeta e os demais seres.

Quando o líder efetivo dá o seu trabalho por terminado, as pessoas dizem que tudo aconteceu naturalmente.

Lao-Tsé

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Se desenvolver esse poder é a busca em que você está realmente engajado, ou se deseja iniciar ou se aprofundar nesse caminho, conheça os cursos que podem ajudar você nessa direção. Você pode acessá-los aqui.

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Texto baseado no livro:

A Arte do Poder, de Thich Nhat Hanh. Saiba mais aqui.

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