Conforme vimos no artigo anterior, ser compassivo não significa agir motivado por pena ou adotar uma postura sentimentalista e passiva.

O sentido real da compaixão envolve encarar os problemas e as dificuldades – nossas e dos outros – com a capacidade de compreendê-los com profundidade e amplitude, pois este é o único caminho para agir sobre eles de forma efetiva.

Com base nisso, mostramos porque a compaixão é tão importante para superação de nossos problemas e do sofrimento que eles geram, e como a mente compassiva opera de modo crucial na regulação de nossas emoções.

Hoje iremos um pouco mais adiante e mostraremos os 6 atributos e as 6 habilidades que constituem o “lado compassivo da mente”.  

Na medida em que a compaixão é um elemento central para a manutenção de nosso equilíbrio emocional, desenvolver tais atributos e habilidades é fundamental sempre que este equilíbrio for o nosso objetivo.

Seja confiante. Seja compassivo. Seja inteligente. Seja humilde. Seja generoso. O universo retribui o que você dá.

Lauren Jauregui

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O que são “Atributos” e “Habilidades” da Compaixão ou da Mente Compassiva

Os homens levam em consideração apenas suas necessidades, nunca suas habilidades.

Napoleão Bonaparte

O “lado compassivo da mente” ou a mente compassiva dizem respeito a um dos 3 sistemas de regulação de emoções – o sistema de segurança, tranquilização e contentamento. Ele é formado pelo “Círculo da Compaixão”, que é composto por um conjunto de atributos e um conjunto de habilidades, dentro de um contexto específico.

Os atributos definem como a mente compassiva é, ou seja, as características que a constituem.

As habilidades, por sua vez, referem-se a tudo aquilo que é preciso fazer para desenvolver essas características da mente compassiva, isto é, para desenvolver os elementos que constituem a compaixão.

As habilidades, do mesmo modo, são indissociáveis do ambiente em que serão desenvolvidas: um ambiente de cordialidade.

Vejamos de forma um pouco mais extensa, primeiramente, cada um dos atributos da mente compassiva ou da compaixão.

Os 6 Atributos da Compaixão ou da Mente Compassiva

CUIDADO COM O BEM-ESTAR

Amar é um cuidar que se ganha em se perder.

Luís de Camões

Este primeiro atributo envolve um compromisso e uma motivação sinceras em cuidar do próprio bem-estar e das outras pessoas.

Esse compromisso pode se manifestar de diversas formas. As mais próximas de nós dizem respeito ao enfrentamento de emoções difíceis.

É o que acontece, por exemplo, quando nos engajamos em enfrentar uma situação em que nos sentimos ansiosos porque sabemos que isto é o melhor a fazer, ainda que tenhamos medo de fazê-lo.

SENSIBILIDADE AO SOFRIMENTO

A linguagem do coração é universal, só é preciso sensibilidade para entendê-la.

Charles Duclos

Esse segundo atributo diz respeito à capacidade de perceber quando nós e os outros estão experimentando algum sofrimento, sob a forma ou não de alguma emoção difícil.

Por isso, esse atributo envolve também a capacidade de estar aberto a essas situações para que as dificuldades e as dores possam ser notadas, mas sem deixarmos ser “engolidos” por elas.

O próprio fato nos interessarmos por assuntos com a compaixão e seus atributos já revela que estamos de alguma forma abertos e sensibilizados com o sofrimento e as dificuldades dos outros, as nossas próprias ou ambas.

Assim como ocorre com qualquer elemento que constitui a compaixão, o contexto de cordialidade e de “calor humano” é crucial para que esse e os outros atributos se desenvolvam.

SIMPATIA

A maioria das artes exige longo estudo e aplicação, porém, a mais bela de todas, a simpatia, apenas exige vontade.

Philip Chesterfield

Diz respeito à capacidade de sermos movidos pela nossa condição e a das outras pessoas e de nos conectarmos ao sofrimento que, no atributo anterior, foi apenas percebido.

EMPATIA

A empatia vai um pouco mais além que os atributos anteriores, ao mesmo tempo em que serve de base para eles e os alimenta, na medida em que é fundamental para a construção de uma postura de abertura ao sofrimento.

Esse atributo possibilita pensar sobre a natureza da nossa própria mente e das outras pessoas. Mais especificamente, permite reconhecer o que condiciona a mente, as perspectivas a partir das quais nós mesmos e os outros veem as coisas.

Consequentemente, permite enxergar o contexto em que as dificuldades ocorrem e como as nossas mentes nos influenciam. Em suma, é um atributo que nos ajudar a descobrir exatamente nós e os outros precisam em cada momento de dificuldade.

NÃO-JULGAMENTO

Grande Espírito, ajuda-me a não julgar ninguém antes de ter caminhado uma meia lua com os seus sapatos.

Oração Hindu

Esse atributo envolve reconhecer que os seres humanos e as situações em que eles se encontram são multifacetados e complexos.

Quando realmente compreendemos isso, percebemos que simplesmente julgar e condenar as coisas que ocorrem na vida e as próprias pessoas, dentre elas nós mesmos, trata-se de um estreitamento de visão que nos impede de reconhecer as causas dos problemas.

Mais do que isso, trata-se de algo que não apenas paralisa a “cura”, mas aprofunda o sofrimento.

O comportamento “julgador”, por outro lado, está diretamente relacionado com sentimentos como vergonha e culpa. Esses sentimentos têm origem em ambientes onde as pessoas são muito críticas consigo e/ou com os outros, como uma estratégia pouco efetiva e bastante destrutiva de se defender das dificuldades.

O desenvolvimento da mente compassiva e de seus atributos busca, justamente, nos libertar gentil e progressivamente dessa postura excessivamente crítica, da culpa e da vergonha excessivas que nos adoecem e paralisam.

TOLERÂNCIA AO SOFRIMENTO

Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.

Khalil Gibran

Este sexto atributo refere-se à capacidade de sentir emoções difíceis ou outras formas de sofrimento apesar da vontade de suprimi-las ou afastá-las.

É importante enfatizar aqui que não se trata da busca deliberada e consciente por emoções difíceis e diferentes formas de sofrimento, como uma estratégia para nos tornarmos “resistentes” a elas.

Em vez disso, esse atributo se refere à capacidade tolerar o sofrimento que geram – de acordo com os limites que temos em cada momento – para podermos encará-los e, só assim, conseguirmos progressivamente lidar com eles.

Embora seja importante também mantermos nossas emoções sob controle, não é saudável que isso seja feito o tempo todo. Tal atitude nos leva a reprimir e a esconder o que sentimos em lugar de clarificar os sentimentos. Desse modo, acaba por alimentar outros problemas psicológicos futuros.

As 6 Habilidades da Compaixão ou da Mente Compassiva

Vejamos, agora, as habilidades a serem desenvolvidas para o fortalecimento do lado compassivo da mente.

Aqui elas serão apresentadas de uma forma breve, pois essas habilidades, assim como quaisquer outras, constituem-se e se consolidam apenas por meio da prática.

Mais adiante, na última parte deste artigo, faremos alguns apontamentos sobre como desenvolvê-las.

COMPREENSÃO COMPASSIVA

O amor é filho da compreensão; o amor é tanto mais veemente, quanto mais a compreensão é exata.

Leonardo da Vinci

A prática dessa habilidade envolve a compreensão das razões pelas quais nós “somos como somos” e de estarmos nas situações em que estamos. Em suma, é a habilidade de apoiarmos a nós mesmos e aos outros.

IMAGENS COMPASSIVAS

As pessoas ficam perturbadas, não pelas coisas, mas pela imagem que formam delas.

Epicteto

A ansiedade e outras emoções difíceis nos torna facilmente predispostos a gerar imagens negativas e assustadoras em nossas mentes, frequentemente ligadas a um passado traumático ou a um futuro que não conseguimos controlar.

Desse modo, essa segunda habilidade consiste na capacidade de gerar imagens de outros tipos, isto é, originadas através da mente compassiva.

Por meio delas, podemos pensar em situações passadas ou futuras através de sentimentos solidários, compreensivos, gentis e encorajadores, como meio de transformação de nossos pensamentos e emoções difíceis.

ATENÇÃO COMPASSIVA

Humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo.

Ludwig Wittgenstein

O treino dessa habilidade nos permite reconhecer quando as coisas estão indo bem e quando estão indo mal, mas sem nos prender aos aspectos negativos. Ou seja, sendo capazes de reconhecer todas as vezes em que as coisas acabaram bem, mesmo que tenham iniciado de forma negativa.

Em resumo, essa habilidade nos ajuda a focar nas coisas de modo a criar uma perspectiva equilibrada sobre o que aconteceu ou está acontecendo.

MOTIVOS COMPASSIVOS

Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar.

Dalai Lama

Quando agimos e nos orientamos por motivos compassivos, focamos no que há de melhor para nós e para os outros e nos comportamos do mesmo modo.

Isso permite nos direcionarmos para coisas que realmente nos façam florescer a longo prazo e produzam nosso bem-estar.

COMPORTAMENTOS COMPASSIVOS

O comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem.

Johann Goethe

São os comportamentos que emergem dos motivos compassivos. Mais amplamente, resultam do treino de todas as outras habilidades. Na verdade, todas as habilidades se retroalimentam.

EMOÇÕES COMPASSIVAS

Não somos responsáveis pelas emoções, mas sim do que fazemos com as emoções.

Jorge Bucay

São emoções relacionadas aos sentimentos de “calor humano”, apoio, bondade, senso de conexão, dentre outras. Assim, como todas as outras habilidades, constituem-se e se fortalecem por meio do treino cada uma delas, num círculo virtuoso.

A Importância do Contexto

A bondade em palavras cria confiança; a bondade em pensamento cria profundidade; a bondade em dádiva cria amor.

Lao-Tsé

Como vimos, todos os atributos e habilidades da mente compassiva ou da compaixão, embora distintos entre si, estão fortemente relacionados e se complementam.

Além dessa interrelação, um contexto de cordialidade, bondade e “calor humano” é muito importante para desenvolvê-los. Isso ocorre porque permite que não sejam apenas apreendidos como conceitos meramente intelectuais, mas sim a partir de uma ressonância emocional.

Além disso, cria um ambiente virtuoso de encorajamento e validação, sobretudo quando há outras pessoas envolvidas passando por situações semelhantes.

Só assim esses atributos e habilidades podem ser adequadamente internalizados; ou seja, só assim podem não ser apenas entendidos, mas também verdadeiramente compreendidos.

Então, a partir desse ponto, caberia perguntar:

A partir de que imagem podemos conceber, mais exatamente, o modo como esses atributos e habilidades se relacionam?

Atributos e Habilidades da Mente Compassiva: Como se Relacionam?

Dai-me um ponto de apoio e levantarei o mundo.

Arquimedes

Para entender essa relação, podemos começar imaginando um banco com seis pernas. Cada uma delas representa um dos seis atributos vistos anteriormente. Juntas, as pernas do banco fornecem um apoio sólido e forte.

Se removermos qualquer uma delas, o banco continua estável e em , mas menos do que antes.

Podemos imaginar também que esse banco, além de ser formado por seis pernas, possui um assento formado por seis tiras de tecido ou de palha trançada. Elas representam as seis habilidades compassivas.

Assim como as pernas e o assento, juntos, formam o banco, os atributos e as habilidades formam aquilo de que precisamos para desenvolver e manter a compaixão, com todos os benefícios que ela nos propicia.

Quanto mais atributos e habilidades compassivas pudermos desenvolver, tanto melhor. Porém, ainda que faltem alguns deles, como vimos, ainda podemos manter nosso banco em pé.

Ter dificuldades ao tentar desenvolvê-los todos juntos é comum, talvez até nem seja desejável buscar todos atributos e habilidades de uma única vez. O importante é começar a construí-los, mesmo que de forma inicialmente instável.

A segurança e a firmeza são coisas que adquirimos com o tempo, assim como em qualquer processo de aprendizagem.

Como Obter esses Atributos e Habilidades?

Todas as graças da mente e do coração se escapam quando o propósito não é firme.

William Shakespeare

Todos os homens, sem exceção, procuram ser felizes. Embora por meios diferentes, tendem todos para este fim.

Blaise Pascal

Com base no que vimos aqui, foi possível compreender que a compaixão envolve um tipo de mentalidade, aquela que define nosso “lado compassivo da mente”, ou o que chamamos de mente compassiva.

Embora nosso foco nesse artigo não seja apresentar técnicas de treinamento da mente compassiva – algo que faremos em outra oportunidade – é oportuno ressaltar que existem muitas formas diferentes para desenvolver os atributos e habilidades da compaixão.

É possível desenvolvê-los, por exemplo, através de exercícios de atenção plena, observando calma e gentilmente nossa respiração, nossos próprios pensamentos, sentimentos e as sensações que nos causam.

Há, ainda, a possibilidade de observar atentamente uma série infinita de atividades cotidianas: nosso caminhar, o ato de comer, beber, tomar banho, escovar os dentes…

É possível também desenvolver imagens positivas para equilibrar nossos sistemas de regulação de emoções. Ou outras técnicas, baseadas no pensamento e no raciocínio, que buscam desafiar as nossas crenças e encontrar soluções novas e criativas para trabalhar com situações difíceis e explorar nossas qualidades.

Enfim, o que descrevemos muito brevemente aqui é apenas uma pequena amostra de como podemos treinar nossos atributos e habilidades compassivos.

De qualquer forma, independentemente das técnicas que venhamos a utilizar, nosso ponto de partida sempre será a motivação adequada. Uma motivação compassiva e firmemente focada mudar nossa vida e a vida dos que nos cercam para melhor.

Nesse sentido, simplesmente ter a motivação para mudar já é um passo muito importante, pois a motivação correta é uma condição necessária, sem a qual não existe nenhum processo de mudança.

Contudo, é sempre importante mencionar que não é condição suficiente, pois não se sustenta por si só. Para que a mudança efetivamente ocorra é fundamental que ela ande de mãos dadas com os “meios hábeis” adequados a essa transformação.

E esses meios não são outra coisa senão os atributos e habilidades da nossa mente compassiva.

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Se esta é a busca em que você está engajado e se deseja iniciá-la ou nela se aprofundar, conheça os cursos que podem ajudar você nessa direção. Você pode acessá-los aqui.

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Texto baseado nos livros:

Building your Self-Confidence using Compassion Focused Therapy, de Mary Welford. Saiba mais aqui.

Managing your Anger using Compassion Focused Therapy, de Russell Kolts. Saiba mais aqui.

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